Para entender por que a divulgação científica é tão importante, complexa e gratificante, podemos pensar em dois tripés que, juntos, sustentam uma única atividade central.
O primeiro tripé da divulgação científica é o mesmo da universidade como um todo: ensino, pesquisa e extensão. A divulgação científica sempre tem, como ponto de partida, a pesquisa científica, que constitui a matéria prima a ser divulgada. Em seguida, essa matéria prima é transformada – em texto, mídia ou atividade educativa –, com o objetivo de ensinar. Contudo, diferentemente do material didático utilizado em sala de aula, o material da divulgação científica é confeccionado visando à comunicação com a sociedade em geral, o que é uma característica da extensão universitária. Dessa forma, a divulgação científica integra, organicamente, ensino, pesquisa e extensão, perdendo não apenas seu equilíbrio, mas todo o sentido, se uma das três escoras desse tripé faltar.
Em virtude desse delicado equilíbrio, o próprio pesquisador não tende a ser, frequentemente, a pessoa mais indicada para explicar os motivos, métodos e resultados da sua pesquisa para o público em geral. Como todo indivíduo apaixonado pelo que faz, o pesquisador especialista costuma dispensar muita atenção a detalhes e desdobramentos específicos que o público leigo não consegue contextualizar, muito menos apreciar. Por outro lado, a divulgação científica não se limita a simplificar, ou vulgarizar, resultados científicos; há inúmeros exemplos lamentáveis, nas mídias impressa e virtual, em que matérias sobre ciência e tecnologia viram peças superficiais, sensacionalistas, que mais desinformam do que informam. A divulgação científica bem feita transforma sua matéria prima sem destruí-la.
Por tudo isso, a divulgação científica deve ser realizada por pessoas com sólidos conhecimentos do método científico e ampla visão, geral e crítica, das várias áreas do conhecimento humano, sem, necessariamente, serem elas próprias cientistas especializadas. Esse, aliás, é justamente o perfil dos egressos do BC&T e do BC&H da UFABC, que podem encontrar na divulgação científica um desafio profissional gratificante.
A distância entre o cientista no seu laboratório e o público cria outro desafio para a divulgação científica. Uma vez que a sociedade em geral não costuma conviver, frequentemente, com cientistas, é comum que estes sejam transformados, no imaginário popular, em figuras míticas ou estereotipadas. Claro que, eventualmente, há gênios, nerds e outros perfis excêntricos nos laboratórios (e pode ser divertido ler sobre eles), porém, a boa divulgação científica retrata a ciência como algo que está ao alcance de todos que se empenham e que pode ser (e é!) praticada por pessoas reais. A divulgação científica deve, portanto, humanizar o cientista sem transformá-lo em caricatura.
Ao retratar a ciência como uma atividade extremamente rica e interessante, praticada por pessoas reais, a divulgação científica inspira seu público a se interessar por ciência, tecnologia e inovação e a refletir sobre o mundo e a sociedade na qual vivemos.
As atividades de transformar (o resultado da pesquisa), humanizar (o pesquisador) e inspirar (o público) compõem, pois, o segundo tripé da divulgação científica. Tanto quanto o primeiro, esse segundo tripé também reflete a essência da UFABC: uma universidade que transforma, humaniza e inspira.
Prof. Klaus Capelle Reitor da UFABC
Fonte: Comunicare - Informativo Interno da Fundação Universidade Federal do ABC no 154 – outubro de 2014
A UFABC contará, a partir de outubro de 2014, com uma área específica dedicada ao tema. Localizada administrativamente na Pró-reitoria de Extensão, a Seção de Divulgação Científica deverá interagir fortemente com as Pró-Reitorias de Pesquisa, de Graduação e de Pós-graduação, além da Assessoria de Comunicação e Imprensa, da Assessoria de Relações Internacionais e da Agência de Inovação.