|Educação sexual| #1 – Educação sexual é falar de sexo? (V.3, N.9, P.8, 2020)

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Divulgadora da Ciência:

Meiri Aparecida Gurgel de Campos Miranda [Lattes]

Sexualidade é um tema que provoca, causa receio e fascina. Há quem acredite que, se não falarmos disso, crianças e adolescentes estarão protegidos. Infelizmente, as notícias cotidianas e os dados de pesquisa nos mostram o contrário, para muitas pessoas o silêncio e as dúvidas resultam em opressão, violências e ampliação das vulnerabilidades.

 

É comum nos depararmos, em grupos de mensagem ou nas redes sociais, com relatos que definem a educação sexual como uma “educação para o sexo”, um ensino sobre práticas sexuais e que, por isso, não deve ser assunto escolar. Quem compartilha desta compreensão vai, claro, se escandalizar quando falarmos que a educação sexual deve ser trabalhada com todas as faixas etárias, nas escolas e nas famílias. E esta confusão é alimentada intencionalmente por diversos grupos, deixando crianças, adolescentes, famílias, professoras e professores sem saber como agir diante de comportamentos, violências e inquietações que surgem no dia-a-dia escolar.

 

Temos, neste contexto, alguns termos que merecem ser explorados: sexo, sexualidade e educação sexual. Geralmente, associamos sexo à distinção entre homens e mulheres, em uma relação direta com a reprodução e atos sexuais e reduzimos sexualidade à vivência das práticas sexuais. Neste ponto, encontra-se o maior equívoco. Sexualidade tem muito mais a ver com o que somos do que com o que fazemos. É um componente humano que compreende o modo como nós nos sentimos, nos vemos, nos relacionamos com os demais e com a afetividade e o prazer. Esses aspectos permeiam toda a nossa vida, sendo a sexualidade uma característica dinâmica, que nos constitui e é constantemente constituída por cada indivíduo, desde a vida intrauterina até a morte.

 

Com essa concepção ampla de sexualidade, podemos elaborar uma compreensão de educação sexual como o ato de ensinar sobre os modos de viver e ser no que se refere ao nosso corpo e nossa identidade, às formas de vivência do prazer e da afetividade e às habilidades necessárias nas relações interpessoais, como assertividade e respeito, e à identificação de pessoas a quem pedir ajuda, em caso de necessidade. Neste sentido, somos educados sexualmente todos os dias por diversas instituições, como a família, a mídia, as redes sociais, as instituições religiosas e, claro, a escola.

 

Esta educação pode ser acolhedora, empática e honesta com a dúvida dos indivíduos ou proibitiva e silenciadora. Se uma criança faz uma pergunta sobre o tema e a professora ou a mãe a repreende, o que estamos ensinando é que não se trata de um assunto sério, de algo a ser falado na escola ou em casa. Assim, só resta sussurrar, usar termos pejorativos, reproduzir comportamentos, procurar informações em vídeos pornográficos e recorrer a aspectos da sexualidade para ofender ou escandalizar. Ao contrário, se a escola, por exemplo, faz um trabalho de educação sexual integral e constante, dúvidas podem ser sanadas, há orientação e informação cientificamente válidas e acolhimento dos relatos e anseios de adolescentes e crianças. Os benefícios podem, inclusive, se estender às famílias, uma vez que alunas e alunos percebem que o assunto é passível de ser comentado de forma séria, franca, sem vulgarização e ofensas.

 

Escola e família devem ser parceiras ao tratar do tema, pois uma educação sexual emancipatória é planejada, intencional, adequada à faixa etária e anseios de seu público-alvo, coíbe violências, preconceitos, mitos e tabus, respeitando valores individuais e possibilitando elementos para uma reflexão crítica nas tomadas de decisão na vivência da sexualidade.

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