Pesquisando no outro lado do mundo (V.3, N.4, P.1, 2020)

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Tempo de leitura: 4 minutos
#acessibilidade Foto da Emily (à esquerda) com sua orientadora (à direita) e outros oito pesquisadores, todos homens. Todos na foto vestem roupa social.

As diferenças entre o Brasil e o Japão na área de pesquisa

Meu nome é Emily Ami Takeuchi, e nesse artigo, gostaria de contar um pouco da minha experiência de ter feito pesquisa no Japão e as diferenças entre pesquisar lá e no Brasil.

Sou aluna do curso de Engenharia de Materiais na UFABC e participei da Mobilidade Acadêmica na Shibaura Institute of Technology (SIT) de março de 2019 a janeiro de 2020, onde tive aulas em inglês de diversos cursos, que podem ser convalidados na UFABC, mas além disso, também fiz parte de um laboratório de química de coordenação da SIT.

Antes de ir para o Japão, eu estava realizando uma pesquisa na área de química computacional. Quando fui procurei um laboratório para finalizar minha pesquisa e assim começou minha busca por um orientador no Japão. Foi algo tranquilo uma vez que tive apoio e ajuda do agente de internacionalização da SIT, em abril eu já havia encontrado a minha orientadora e começado a pesquisar por lá; então, até agosto, continuei fazendo a pesquisa que já tinha começado no Brasil e, a partir de setembro, passei a colaborar em uma pesquisa na área prática de cristalização.

Ao longo desses 10 meses, pude reparar em várias diferenças entre pesquisar no Japão e no Brasil; uma das mais “chocantes”, pra mim, foi que, diferentemente do Brasil, onde você tem uma liberdade para ir e vir do laboratório, no Japão a orientadora tem conhecimento dos horários de aula dos alunos e, baseado nisso, ela monta uma rotina dizendo os dias e os horários em que você deve estar presente no laboratório — por exemplo: em dias que o aluno não tem aula, ele deve chegar no laboratório até 10:30 da manhã e sair a partir das 17:00 — e, em caso de compromissos, o aluno deve avisar a orientadora com no mínimo 1 semana de antecedência e escrever em um calendário, localizado no laboratório, o nome, a data em que irá faltar e o motivo. Já em casos de imprevistos ou doenças, o aluno deve avisar a orientadora por e-mail a falta e o motivo.

Outra diferença foi na disponibilidade de recursos financeiros que os pesquisadores possuem no Japão; os alunos de lá não necessitam de aprovação para comprar um reagente diferente a fim de realizar um experimento e a entrega é realizada de forma muito rápida (geralmente em 1 semana o reagente chega ao laboratório). Os computadores também são constantemente trocados por modelos mais atuais e sempre há manutenção dos aparelhos. Além disso, a universidade banca as viagens dos alunos (em questão de mobilidade e hospedagem) quando estes querem ou precisam ir para uma conferência, só é necessário informar à direção com uma antecedência de mais ou menos 2 meses e preencher um relatório pós-conferência falando, de forma geral, o que foi feito durante a viagem.

Porém, conversando com a minha orientadora, descobri que, infelizmente, os pesquisadores de universidades públicas do Japão também recebem um valor de bolsa baixo como os pesquisadores do Brasil, então por mais que os pesquisadores tenham recursos financeiros disponíveis para investirem em suas pesquisas, eles têm dificuldade para viver apenas com o valor recebido já que o custo de vida no Japão é bem alto.

Por fim, uma diferença sentida, por mim, foi a presença de poucas mulheres na área de pesquisa, principalmente nas áreas de ciências. No Brasil há várias mulheres no laboratório em que pesquiso e é possível perceber que, em outros laboratórios, as mulheres também estão presentes em grande porcentagem. Contudo, no Japão, no laboratório onde pesquisei, descobri que fui a primeira mulher que a minha orientadora orientou em sua vida acadêmica e, consequentemente, fui a primeira e única mulher pesquisadora presente em um grupo de 10 pesquisadores, logo, me senti um pouco excluída nos primeiros meses, já que eles eram tímidos e não se comunicavam muito comigo, o que não aconteceu quando comecei a pesquisar no Brasil; além disso, tive a oportunidade de ir a uma conferência de química e lá havia uma quantidade muito pequena de mulheres, comparada à quantidade de homens, tanto que eu assisti a aproximadamente 15 apresentações e apenas uma foi apresentada por uma mulher.

Então foi possível concluir que o Japão é um ótimo país para realizar pesquisa, uma vez que o pesquisador tem apoio financeiro e suas questões culturais, como a extrema organização, também podem ajudar na otimização do tempo de criação/estudo, porém, assim como no Brasil, eles recebem um valor de bolsa baixo para se sustentarem e na questão de gênero é necessário que eles incentivem mais as mulheres a pesquisarem e as incluam no âmbito acadêmico, como o Brasil tem feito cada vez mais.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Arquivo pessoal.

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