Golden Show: Os museus do ouro na Colômbia (V.2, N.4, P.2, 2019)

Facebook Twitter Instagram YouTube Spotify
Tempo de leitura: 5 minutos
#acessibilidade Foto da entrada do Museu do Ouro em Bogotá, uma grande construção de concreto com um letreiro escrito Museo del Oro

Texto escrito em colaboração com Felipe Cesar Torres Antonio

Uma das coisas interessantes de ser cientista é o fato de termos de viajar a trabalho, seja para participar de bancas e outras avaliações, seja para participar de congressos. Essas são oportunidades de aprendizado que vão muito além do evento em si, é a possibilidade de conhecer mais do mundo e suas diferentes culturas. A trabalho ou a turismo, sempre tentamos incluir a visita a um museu em nossas viagens.

Numa dessas oportunidades, em 2018, visitamos dois museus muito interessantes e complementares, o Museo del Oro de Bogotá e o Museo del Oro Zenú em Cartagena das Índias, ambos integrantes da Rede Cultural do Banco da República Colombiana. Esses museus trazem a história do povo colombiano ao longo dos séculos, desde a época pré-colombiana ou pré-hispânica até os tempos atuais e mostram como essa história está amarrada com a extração e manipulação de metais, em particular o ouro.

Nas civilizações pré-colombianas o ouro era utilizado principalmente em ornamentos para homens, mulheres e crianças, muitas vezes enfeitavam feiticeiros e também eram utilizados como adornos fúnebres.

O museu de Bogotá é bem grande e conta com um acervo que ocupa três andares e com mais de 55 mil peças, a maioria de ouro, é claro! Tem até experiências sensoriais, em que você é levado à Colômbia de antes dos europeus a invadirem. Um item para os apaixonados por química é o interessante diagrama abaixo, que mostra como a mistura de diferentes proporções dos metais Ouro (Au), Cobre (Cu) e Prata (Ag), leva a ligas com diferentes cores, fato que já era aproveitado na metalurgia mais antiga da região.

oro - Golden Show: Os museus do ouro na Colômbia (V.2, N.4, P.2, 2019)

#acessibilidade Foto de um diagrama em forma de triângulo. Na ponta superior está escrito %Au, na ponta inferior esquerda %Ag e na ponta inferior direita %Cu. Ao longo dos lados do triângulo as porcentagens variam de 0 a 100. Dentro do triângulo, as cores variam em vários tons, desde branco (para quando temos mais prata) a amarelo (quando adicionamos mais ouro) ao vermelho (quando adicionamos mais cobre) de acordo com as diferentes proporções de cada componente.

Já no Museo del Oro Zenú de Cartagena uma aula espetacular de como, apesar de não terem conhecimento teórico sobre as ligas metálicas, estes povos utilizavam técnicas bem interessantes para atingirem a cor que eles queriam na produção de metais. Isso muitas vezes passava pelo aquecimento e resfriamento repetido das peças, o que levava um dos componentes metálicos para a superfície e depois poderia ser seguido ou não de um processo de polimento desta camada.

Este museu já valeria a visita só pela arquitetura da casa colonial, típica construção do tipo espanhola com pátio interno, e também pelos vídeos mostrando diversos aspectos da produção de metais mas, além disso, temos a oportunidade de conhecer diversos aspectos de uma das culturas ameríndias mais fascinantes: a Zenú.

Na exposição apresentam-se também algumas tribos menores da mesma região e de cultura muito parecida principalmente pelos conceitos de vida e morte e de sua forma de se relacionar com o meio ambiente, mas também por fatores menos centrais como a produção de ornamentos, tecelagem e as principais características das edificações.

Estes povos possuíam muitas vezes a liderança matriarcal, ou seja, eram liderados por mulheres, com imagens sendo confeccionadas em menção a elas que eram o símbolo da fertilidade. Desenvolveram um sofisticado sistema de canalização de água, tanto para drenagem quanto para irrigação, que durou mais de 1200 anos (de 200 A.C. a 1000 D.C.), quando, não se sabe o porquê, uma parte significativa dos Zenús saiu desta região de planície e migrou para a região de montanhas próximas.

MuseoOro - Golden Show: Os museus do ouro na Colômbia (V.2, N.4, P.2, 2019)

#acessibilidade Esta imagem mostra as curvas de parte um rio e as reentrâncias perpendiculares com a margem, mas paralelas entre si usadas para levar água para irrigação ao mesmo tempo que evita a invasão de água nas aldeias durante as cheias, pois disponibiliza mais espaço para água ocupar neste período.

Uma das regiões mais sagradas para este povo era o equivalente ao que conhecemos hoje como cemitério, mas em formato de bosque. Isso acontecia porque nos rituais fúnebres acreditava-se que ao enterrar o ente querido debaixo de uma árvore faria com que o mesmo pudesse renascer. Além disso, para que o renascimento acontecesse já iniciando com mais riquezas, os mortos eram enterrados com seus principais pertences, incluindo os de ouro.

Imagem MuseoOro2 - Golden Show: Os museus do ouro na Colômbia (V.2, N.4, P.2, 2019)

#acessibilidade Representação de um cadáver Zenú enterrado junto a seus pertences em um bosque com uma muda de árvore crescendo logo acima dele.

Aí ficou o grande segredo de terem parte de sua riqueza cultural preservada ao longo da história. Os espanhóis não foram apenas assassinos e ladrões ao chegarem à América onde destruíram diversos povos, inclusive os Zenús (por volta de 1600 D.C.), eles também foram saqueadores de sepulturas. Mas, por mais que eles tivessem escavado e destruído boa parte deste território sagrado, uma parte ficou para contar esta fascinante história no Museo del Oro Zenú.

Cientistas se esforçam bastante para analisar um povo ou uma ocorrência histórica, levando em consideração o momento histórico, as características locais e a cultura do povo em questão. Busca-se, assim, contextualizar e respeitar a identidade de cada sociedade. Por isso esses museus são um ponto de parada obrigatório se você for para a Colômbia.

Imagem MuseoOro1 - Golden Show: Os museus do ouro na Colômbia (V.2, N.4, P.2, 2019)

#acessibilidade Mapa da Colômbia com pontos indicando a origem de diversos povos pré-colombianos, dentre eles o povo Zenú (aqui referido como Sinu). O nome de cada povo é acompanhado de uma peça de cerâmica feita pelo por ele e restaurada nos dias atuais.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Felipe Restrepo Acosta [CC BY-SA 3.0], via Wikimedia Commons

Fonte da imagem 1: Paula Homem de Mello

Fonte da imagem 2: cultura10.org

Fonte da imagem 3: cultura10.org

Fonte da imagem 4: hombresdebarro.com

Para saber mais:

Museo del Oro Bogotá

https://www.colombia.com/turismo/sitios-turisticos/bogota/atractivos-turisticos/sdi461/75854/museo-del-oro

Museo del Oro Zenú Cartagena de Indias

http://www.cartagenadeindias.travel/resultados-guia_museos-3?la=es&/info-guia_museo-del-oro-zen-247

https://www.cultura10.org/zenu/

https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/100956/314081.pdf?sequence=1

Compartilhe:

1 comentário(s) em “Golden Show: Os museus do ouro na Colômbia (V.2, N.4, P.2, 2019)

Responder

Seu endereço de e-mail não será publicado.Campos obrigatórios estão marcados *