O futuro da carne (V.3, N.8, P.6, 2020)

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Tempo de leitura: 5 minutos
#acessibilidade Foto de uma vaca preta olhando para a câmera. Em sua orelha direita há uma etiqueta com números e código de barras. Ao fundo pode-se outras vacas.

O consumo de carnes está muito presente na nossa sociedade, porém junto com ele aparecem diversos problemas que às vezes não nos damos conta. A naturalidade com que se compra e se come carne atualmente faz com que às vezes seja esquecido ou até mesmo que não saibamos de onde vem esse alimento e muito menos como ele é produzido e chega até nós.

A criação de gado para abate cresceu muito nos últimos anos no Brasil, e esse fator tem ligação direta com o desmatamento da Amazônia e do Cerrado, já que é preciso espaço para a criação desses animais e também para a plantação de grãos usados como alimentos. [1] Outro fator preocupante é a pegada hídrica da carne. Pegada hídrica é a quantidade de água que é usada para a fabricação de algum produto, segundo a Embrapa a média da pegada hídrica para a carne produzida no estado de São Paulo em 2017 é em média quase 6 mil litros de água para cada kg de carne bovina. [2]

Mais recentemente, com a pandemia do novo coronavírus, a relação do consumo de carnes (de forma geral) com o aparecimento de doenças voltou a ser comentada. Mas esse problema sempre existiu, um relatório da ONU de 2013 mostra que cerca de 70% das “novas” doenças em humanos tinham origem animal, sejam essas doenças vindas diretamente dos animais abatidos ou doenças que podem ser agravadas pelo consumo excessivo de carne. A questão da expansão dos pastos também contribui para o aparecimento de doenças, já que o gado entra em contato com animais selvagens. [3]

Todos esse pontos negativos em relação ao consumo de carne têm impacto direto na população e fizeram com que o número de pessoas vegetarianas crescesse muito nos últimos anos. Uma pesquisa feita pelo IBOPE inteligência e encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) mostra que em 2018 14% dos brasileiros se consideravam vegetarianos, um crescimento de 75% em relação a 2012. [4]

Devido à preocupação com o meio ambiente, os perigos à saúde causados pelo consumo de carnes e o aumento no número de pessoas vegetarianas foi preciso encontrar opções para substituir as fontes de proteínas animal. Algumas empresas, voltadas para o público vegetariano, já possuíam opções de proteínas vegetais a base de grãos. Porém, pensando em pessoas que ainda consomem carnes, mais recentemente, começaram as vendas de proteínas vegetais que possuem textura e gosto de carne, para atrair o público recém vegetariano e até mesmo pessoas que ainda consomem carnes, mas pensam em reduzir o consumo e/ou querem outras alternativas.

Hoje temos três tipos diferentes de “carnes do futuro”. As proteínas plant-based que são feitas a partir de vegetais e grãos. As carnes in vitro que são produzidas em laboratórios a partir de células animais, porém sem que ocorra o abate. E por último as proteínas impressas em impressoras 3D. Todos os tipos contam com muita inovação tecnológica e pesquisa e apresentam diversos prós e contras em relação a fabricação e consumo desses produtos.

As plant-based são as mais comuns, já é possível encontrar em supermercados e compondo cardápios de redes de fast-food e hamburguerias menores. O formato mais comum ainda é o hambúrguer, mas é possível encontrar proteínas que imitam nuggets, linguiças e salsichas. Um ponto muito criticado nesse processo é a questão da quantidade de sódio e do processamento necessário para que esse alimento seja produzido. Nutricionistas compararam marcas de hambúrgueres plant-based e convencionais, o resultado mostra quantidades parecidas de proteínas e de sódio, mas hambúrgueres convencionais são carnes ultra processadas não recomendadas para consumo constante. [5]

As carnes in vitro ainda estão em estudo e trazem com elas muitas polêmicas relacionadas à ética. Basicamente essas carnes são feitas em laboratórios a partir da multiplicação artificial de células. Na série de documentários “Explicando”, da Netflix, tem um episódio relacionado à esse assunto (veja aqui) e as pessoas apresentam uma certa resistência em substituir a carne convencional pela feita em laboratório. Além da questão ética, o preço para produção dessas carnes é muito alto, já que ainda estão sendo desenvolvidas pesquisas mais aprofundadas. Os principais pontos positivos são relacionados à ecologia, já que a pegada ecológica se torna menor, e ao bem estar dos animais, pois nessa opção não existe sofrimento. [6]

Uma nova técnica para produção de alternativas às carnes é a impressão das “carnes” a partir de impressoras 3D. A técnica é muito recente e ainda é preciso muito estudo e pesquisa acerca dela. Os pontos positivos são os mesmos buscados pelas outras técnicas: questão ecológica, bem estar animal e a questão relacionada à saúde pública. Os pontos negativos são de viés cultural e nutricional. A culinária, de forma geral, é uma das marcas que definem diferentes culturas e tradições, alimentos impressos (não só proteínas animais) não precisam do cozimento e da preparação, ao contrário dos alimentos in natura. Na questão nutricional esses alimentos não suprem as necessidades humanas, a não ser que seja preparado de forma personalizada para cada pessoa. [7]

Todas as técnicas apresentam prós e contras, assim como o consumo convencional da carne. O importante é o investimento em pesquisa para que seja possível uma produção limpa e saudável. Mesmo com todas alternativas a diminuição do consumo de carne é necessária tanto para saúde pessoal quanto para a saúde do meio ambiente. E aí? Depois de ler esse texto você está preparado para o futuro da carne?

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Imagem de Alexas_Fotos por Pixabay

[1] AGÊNCIA BRASIL. Produção de carne afeta desmatamento na Amazônia, dizem especialistas. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-08/producao-de-carne-afeta-desmatamento-na-amazonia-dizem-especialistas. Acesso em 26 de agosto de 2020

[2] EMBRAPA. Estudos indicam pegada hídrica de bovinos em confinamento no Brasil. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/21518151/estudos-indicam-pegada-hidrica-de-bovinos-em-confinamento-no-brasil. Acesso em 26 de agosto de 2020

[3] NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Cerca de 70% de novas doenças que infectam seres humanos têm origem animal, alerta ONU. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2013/12/1460081-fao-70-das-novas-doencas-em-humanos-tiveram-origem-animal. Acesso em 26 de agosto de 2020

[4] SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA. Pesquisa do IBOPE aponta crescimento histórico no número de vegetarianos no Brasil. Disponível em: https://www.svb.org.br/2469-pesquisa-do-ibope-aponta-crescimento-historico-no-numero-de-vegetarianos-no-brasil. Acesso em: 25 de agosto de 2020

[5] REVISTA NUTRI ONLINE. A revolução da carne plant-based por Deilys Gonzalez. Disponível em: https://www.revistanutrionline.com/2019/10/03/4-hamburgueres-vegetais-que-voce-precisa-conhecer/. Acesso em 29 de agosto de 2020.

[6] VITAL, A. C. P. et al. Produção de carne in vitro: nova realidade da sociedade moderna. Portal Pubvet. Brasil, v. 11, n. 9, p. 840-946, set/2017.

[7] SUN, J.; PENG, Z.; ZHOU, W.; FUH, J. Y. H; HONG, G. S.; CHIU, A. A Review on 3D Printing for Customized Food Fabrication. In: Procedia Manufacturing, 2015, S. 308–19.

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