Diante da emergência da pandemia global provocada pelo Novo Coronavírus, o SARS-CoV-2, a recomendação dos principais Órgãos Internacionais e Estados tem sido a de adotar medidas de isolamento social. Segundo estimativas e de acordo com a experiência internacional de países que têm conseguido controlar a pandemia, a taxa ideal de isolamento social deveria ser de aproximadamente 70%.

A ideia central por trás de tais medidas é a de evitar a circulação de pessoas e existem duas causas centrais para isso: a primeira, mais óbvia, é a de evitar a contaminação da população pela COVID-19, dentro de um cenário onde não existe uma vacina ou medicamentos próprios para o tratamento da doença. Uma segunda, menos intuitiva, mas central para compreender a importância das políticas de isolamento, se refere a capacidade de atendimento do sistema de saúde. Ao diminuir a taxa de transmissão, o sistema de saúde pode continuar funcionando e atendendo aqueles que precisam, seja por conta da COVID-19 ou por qualquer outra complicação de saúde.

Uma das principais medidas para verificar o respeito e aderência às recomendações de isolamento social tem sido o uso de tecnologias de monitoramento, especialmente a partir de dados disponibilizados por companhias telefônicas, que conseguem captar onde as pessoas estão, de acordo com o sinal de suas antenas de transmissão, e por algumas empresas e aplicativos de celulares, que acessam dados de localização dos usuários. No Estado de São Paulo, esses dados têm sido coletados através do Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI-SP), criado através de uma parceria entre o Governo do Estado e algumas empresas de telefonia.

 

“Google e Apple unem forças através do monitoramento de COVID-19.” Reprodução TechCrunch.

 

No Estado de São Paulo, que concentra a maior parte dos casos e dos óbitos por COVID-19 no Brasil, a quarentena teve início na terça-feira, 24 de março. De lá pra cá, ela já foi prorrogada duas vezes, tendo sua data prevista de término para o dia 11 de maio. (até a presente data). Entre as explicações para essa alteração está a baixa adesão às medidas de isolamento social no Estado, que teve no último mês uma taxa de isolamento média de 54%, com variações entre 46%, em 30/04, e 59% nos dias de maior adesão. 

Levanta-se a questão da adesão, pois de modo geral, a efetividade de uma política de isolamento depende da participação ativa das pessoas na campanha. Ou seja, depende de que as pessoas fiquem em casa sigam as orientações da comunidade científica e dos governadores. Segundo pesquisa divulgada pela Public Health, entre os fatores mais importantes para garantir a adesão das pessoas a uma quarentena se destacam o acesso à informação sobre a doença e seus impactos sobre a população e o sistema de saúde e a garantia de condições materiais, por meio do acesso seguro à alimentação, medicação e outros bens essenciais. Nesse sentido, o acesso à informação e a garantia de acesso a recursos são complementares. Em outros termos, o isolamento social é necessário, mas não é suficiente. Pode-se dizer, inclusive, que em um cenário de falta de condições materiais, o isolamento por si só pode ser comprometido, ainda que se garanta o acesso à informação!

 

Plataforma da CAIXA Econômica Federal, para garantia do auxílio emergência frente à COVID-19, contudo apresentando várias instabilidades, não garantindo ainda, de modo efetivo, a renda básica durante o período de quarentena. Reprodução Direção Concursos.

 

Para garantir a adesão das pessoas às práticas de isolamento social é necessário que as autoridades competentes disponibilizem informações, mas também é preciso dar condições para que elas permaneçam em casa. Daí a necessidade urgente de construção de uma política econômica orientada ao combate do Novo Coronavírus que considere o cenário de extrema desigualdade que assola a sociedade brasileira. 

É nesse cenário que políticas de transferência de renda e de garantia de emprego se tornam mais importantes, pois servem de segurança para a população, particularmente da camada inserida em postos informais de trabalho e que não possuem qualquer garantia de renda se não trabalharem. Essa situação revela, também, a importância de se defender e fortalecer o Sistema Único de Saúde, o SUS, pois é através dele que a maior parte da população terá garantia de acesso a tratamento em caso de necessidade. Por fim, resgata-se a importância de se pensar o papel da ciência nesse cenário, dada sua capacidade de não apenas informar a população a respeito da doença, mas por ser um meio necessário para a construção de tais políticas.

Escrito por Gustavo Rodrigues Lemos

 

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