Manaus e a nova variante do Novo Coronavírus

Transporte de caixões hoje, dia 14 de Janeiro de 2021, em Manaus, AM. Reprodução Twitter.

Vírus são entidades que estão no limite da vida. Apesar de serem inertes no ambiente, ao entrar em contato com alguma célula (unidade fundamental da vida), tornam-se ativos, utilizando a maquinaria da célula parasitada para se replicar, gerando assim cada vez mais partículas virais infecciosas. O processo de replicação viral é invasivo, lesando as células que possuem maior afinidade e consequentemente causando danos aos órgãos e sistemas relacionados.

O Novo Coronavírus afeta sobretudo células do trato respiratório, como as dos pulmões, mas possui afinidade também às células do coração e do sistema renal, causando outras disfunções como falência de rins e problemas cardíacos.

Conexão da principal proteína viral com o domínio de ligação humano, possibilitando o ingresso do vírus nas células do organismo.

Desde o início da pandemia, o mundo precisou lidar com um vírus que possuía todos os requisitos para causar verdadeiros estragos: não muito letal, mas com índices de infectividade moderados, ou seja, fácil de se transmitir por não deixar, ao menos em curto prazo, os infectados extremamente debilitados, diferentemente do vírus causador do ebola que, por possuir alta letalidade e rápido desenvolvimento no organismo humano, debilita a pessoa ao extremo, impedindo-a de transitar e infectar outras pessoas no ambiente urbano.

Há cinco meses que institutos de pesquisa do mundo inteiro vêm identificando novas variações do Novo Coronavírus. As variações genéticas em vírus ocorrem devido a um princípio evolutivo básico: a seleção natural. Mutações ocorrem a todo momento em seres vivos, sobretudo aqueles que possuem reprodução rápida, como bactérias e vírus. As mutações ocorrem de modo aleatório, por vários motivos. Contudo, a pressão ambiental pode selecionar mutações que disponham ao ser algum modo dele se perpetuar.

Mecanismo básico de seleção natural, um dos principais mecanismos evolutivos. Reprodução Wikimedia Commons.

O vírus causador da COVID-19 sofre cerca de 2 a 3 mutações por mês. E uma delas apareceu em Manaus, com identificação no dia 12 de Janeiro de 2021. Essa nova variante, P.1, pertencente a uma das linhagens do Novo Coronavírus (B.1.1.28), possui mutações que afetam a transmissibilidade e reinfecção pelo Novo Coronavírus. Esse efeito acontece pois uma das mutações ocorre logo na proteína que se liga às células humanas, dando ao vírus um mecanismo de escape contra o sistema de defesa do organismo.

Análise genômica que identificou a nova variante do Novo Coronavírus. Reprodução CADDE Project.

Manaus, que desde o início da pandemia sofre com uma taxa altíssima de transmissibilidade, principalmente devido às más políticas governamentais, provenientes de todas as esferas do poder (municipal, estadual e federal), entra hoje, dia 14 de Janeiro de 2021, em situação de calamidade pública. Pesquisas realizadas pelo Centro Brasil – Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) verificam que a nova variante está presente em, pelo menos, 42% dos pacientes infectados na capital do Estado do Amazonas. 

O problema é extenso, contudo pode ser ainda maior. Desde Novembro de 2020, saíram mais de 150 aviões domésticos do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, para diferentes regiões do Brasil e do Mundo. Apesar da nova variante já ter sido identificada no Japão, ainda não há dados disponíveis acerca de sua existência em outros estados do Brasil. Contudo, considerando sua distribuição, é apenas questão de tempo para sua identificação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBAS, Imunologia Clínica, Elsevier, 2017.

ANAC, Base de dados estatísticos do transporte aéreo 2020.

FARIA, N.R., et al. Genomic characterisation of an emergent SARS-CoV-2 lineage in Manaus: preliminary findings. VIROLOGICAL.Org, 2021.

JORNAL DA USP, Variante do Coronavírus identificada em Manaus tem mais potencial de transmissão e reinfecção. Disponível em Jornal da USP.