Por Leandro Teodoro Júnior

Bares reabrem apesar da pandemia. Reprodução EXAME.

A foto acima, fotografada na zona nobre do Rio de Janeiro, evidencia o princípio de uma inevitável segunda onda de casos de SARS-CoV-2.

Há nove meses, apesar das péssimas políticas federais no combate ao Novo Coronavírus, práticas de isolamento, distanciamento social e aplicações de quarentenas governamentais foram propostas, de forma a mitigar a transmissão do SARS-CoV-2. Neste meio tempo, o desemprego no Brasil aumentou cerca de 28%, encerrando o mês de Outubro com mais de 13 milhões de desempregados no país. Além disso, pesquisas realizadas pela Universidade de Campinas (UNICAMP), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Fiocruz, relataram um aumento substancial nos casos de tristeza e depressão na população brasileira, no qual 40% declararam aumento dos sintomas durante a pandemia.

Em contrapartida, magnatas do comércio, desde a proposição das quarentenas, fizeram esforços para o relaxamento das medidas de isolamento, devido a queda vertiginosa dos lucros. Bruno Covas, prefeito da cidade de São Paulo, apesar da torrente de casos, permitiu a reabertura de locais com alta capacidade de transmissão, como cinemas, museus e shoppings; o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, anunciou no dia 03 de Novembro uma redução descomunal das restrições colocadas pelo Novo Coronavírus, liberando a volta às aulas nas redes privada e pública de ensino e autorizando banhistas nas praias mais movimentadas do estado.

O principal fator para uma segunda onda de casos é o comportamento humano, associado quase que exclusivamente com más políticas de contingenciamento. Mas o que ocasiona uma segunda onda de casos?

A explicação pode ser dada por meio de um modelo simples, chamado S.I.R.: Suscetíveis – Infectados – Recuperados. Esse modelo é utilizado como uma estatística confiável de predição da transmissão de alguma doença infecciosa. O S representa a população com maior suscetibilidade de contrair o vírus. Em 2016, o Brasil possuía 9 milhões de pessoas com diabetes melito; dados recentes mostram que 22 milhões de pessoas ainda são tabagistas; 57,4 milhões possuem pelo menos uma doença crônica não transmissível (doenças pulmonares ou cardiovasculares, diabetes, obesidade); além das mais de 30 milhões de pessoas acima dos 60 anos na população brasileira. Cada um desses dados mostra os gigantescos números de pessoas mais suscetíveis a contrair a infecção causada pelo Novo Coronavírus.

Já o I representa o número de infectados: desconsiderando as subnotificações, o Brasil possui mais de 6,2 milhões de infectados por coronavírus (dados de 26 de Novembro de 2020, 18h30min), sendo mais de 30% no sudeste, região mais populosa do país. Considerando a soma dos casos confirmados de Coronavírus e dos casos confirmados de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave, principal condição patológica causada pelo vírus), em conjunto dos indivíduos em acompanhamento, o número sobe para quase 7,1 milhões de pessoas com a condição.

Por fim, o R representa os recuperados. No Brasil, são mais de 5,5 milhões de recuperados.


Simulação de modelo SIR, mostrando a transmissão de um agente infeccioso. No caso (hipotético) cada indivíduo tem capacidade de infectar oito vizinhos imediatos. pontos azuis representam não infectados, enquanto pontos vermelhos representam os infectados. Reprodução Wikimedia Commons.

A partir dos dados S.I.R. e utilizando como variáveis o tempo e o índice de transmissão, há de se ter uma correlação da capacidade de transmissão do vírus entre as pessoas. Práticas como o uso de máscara de proteção, viseiras faciais e medidas de isolamento e distanciamento realizam uma diminuição da curva de infectados. Em contrapartida, a não adoção dessas medidas desenvolvem uma maior distribuição do vírus em uma população.


A desinformação científica e o uso incorreto da máscara. Reprodução Olhar Direto.

Diferentemente de uma primeira onda, que surge através de um ou pouquíssimos pontos (um indivíduo ou um seleto grupo de indivíduos traz a doença para uma população), a segunda onda possui inúmeros pontos de ressurgimento, dada pela distribuição quase homogênea do vírus em um local. Tal fator, associado com a flexibilização das medidas de contingenciamento, aglomerações em bares, centros comerciais, shoppings e afins, o não uso de materiais de proteção, a demora (natural) de uma vacina eficaz, mutações na estrutura do vírus e casos de reinfecção ainda não solucionados (com fortes indícios de redução dos níveis de anticorpos no organismo), trazem novamente a emergência de barreiras, ainda mais eficazes, de isolamento das populações. Considerando que o Brasil, desde o início efetivo da pandemia, não apresentou soluções eficazes contra o coronavírus (como testagens em massa, amparo financeiro justo às populações mais pobres e às pequenas e médias empresas, realização de isolamentos efetivos e combate às notícias falsas), espera-se uma segunda onda mais poderosa que a primeira.

Número de casos graves no Brasil, desde Abril de 2020. Reprodução Observatório COVID-19 BR.

Assim, reafirma-se: mantenha o isolamento social, saia apenas se for realmente preciso; lave sempre as mãos ao manusear estruturas públicas, como corrimões de escada, catracas e afins; tenha álcool em gel 70% sempre em mãos; use máscara e, se preciso, óculos de proteção ou viseiras faciais; e fique atento aos sintomas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS