Velocitermes heteropterus

Família: Termitidae

Subfamília: Nasutitermitinae


O cupim desta semana chegou rápido: é o Velocitermes heteropterus! O nome dele quer dizer algo como “cupim veloz de asas diferentes (um paradoxo, considerando que cupins são Isoptera, que quer dizer “asas iguais”). O nome do gênero é devido às pernas longas e finas dos soldados, que dão a eles bastante agilidade (para um cupim, é claro!), ou seja, são os Usain Bolt dos cupins.

(Oliveira, 2013)

Essa é uma espécie neotropical, que pode ser encontrada no Brasil e em outros países da américa do sul, como Paraguai e Argentina. Seus soldados, assim como todas as espécies da subfamília Nasutitermitinae, possuem um longo e chamativo nariz (nasus), que é utilizado para lançar uma substância pegajosa contra aqueles que ousam enfrentá-los (video). São um grupo com taxonomia bem complicada e uma revisão do gênero está sendo preparada (Oliveira, 2013).

Essa espécie costuma construir ninhos piramidais, que podem ser policálicos, isto é, uma colônia com vários ninhos interconectados. Mas ela também pode ser encontrada em ninhos de outras espécies, como de Cornitermes spp. Nesses casos, ela pode modificar o ninho “hospedeiro”, construindo câmaras e galerias nele. Nosso cupim da semana se alimenta de serapilheira e gramíneas mortas. Eles saem para buscar da comida de noite, e armazenam esse alimento dentro de câmaras em seus ninhos.

Uma das característica mais marcantes desse grupo é que os soldados e operários são polimórficos, isto é, possuem muitas formas. No caso dos V. heteropterus existem três tipos de soldados e dois de operários em uma mesma colônia. As fêmeas podem ser operárias grandes, enquanto os machos podem ser operários pequenos ou soldados. Os  soldados, por sua vez, possuem três diferentes tamanhos: pequenos, médios e grandes. 

(Oliveira, 2013)

O polimorfismo dos V. heteropterus sempre atiçou a curiosidade dos termitólogos. Afinal pra quê três tipos de soldados e dois tipos de operários? Por volta de 1920, Alfred Emerson, um dos mais importantes termitólogos de sua época,  já se perguntava se os diferentes tamanhos dos soldados e operários refletem no comportamento, como defesa, forrageamento e tunelamento. Observar isso nunca foi uma tarefa fácil, já que esses cupins são tímidos, só saindo à noite pra comer e ficando quase todo o tempo dentro do ninho ou de galerias fechadas. 

Imagens de uma operária grande (Oliveira, 2013)

Cem anos depois e ainda não temos a resposta à pergunta de Emerson: afinal, porquê três tipos de soldados? Sabemos que a morfologia do nasus e a química da substância defensiva excretada é igual, mas nossas certezas terminam aí. Por outro lado, sabemos um pouco mais sobre os operários.

Observando o comportamento de tunelamento, tarefa realizada pelos operários, é possível constatar que as operárias grandes são mais rápidas e constroem túneis mais extensos, ao passo que os operários pequenos constroem redes de túneis com mais bifurcações. Assim, as operárias grandes lideram a tarefa de tunelamento, enquanto os operários pequenos possuem um papel secundário. O mesmo padrão é encontrado no forrageamento, tarefa que tem como objetivo coletar comida, que para essa espécie é grama seca. Para cada 8 operárias grandes forrageando, se  observa um operário pequeno e um soldado (8:1:1).

(Foto por Ives Haifig)

Finalmente, uma outra curiosidade, é que o primeiro caso de partenogênese em cupins foi registrado para duas espécies próximas de Velocitermes heteropterus (Velocitermes uniformis e V. melanocephalus) (Stansly & Korman, 1993). Depois também foi encontrado em V. heteropterus por Toledo-Lima. Partenogênese é, simplificadamente, quando uma fêmea consegue produzir filhotes não estéreis sem se acasalar com um macho. Afinal, eles que lutem!


Texto: Gabriel Olivieri e Danilo Oliveira


Referências:

HAIFIG, I., JOST, C., FOURCASSIÉ, V., et al. “Dynamics of foraging trails in the Neotropical termite Velocitermes heteropterus (Isoptera: Termitidae)”, Behavioural Processes, v. 118, n. May 2020, p. 123–129, 2015.

HAIFIG, I., JOST, C., JANEI, V., et al. “The size of excavators within a polymorphic termite species governs tunnel topology”, Animal Behaviour, v. 82, n. 6, p. 1409–1414, 2011.

HAIFIG, I., LEONARDO, F. C., COSTA, F. F., et al. “On the apterous line of the termite Velocitermes heteropterus (Isoptera: Termitidae): Developmental pathways and cellulose digestion”, Zoological Science, v. 29, n. 12, p. 815–820, 2012.

MATHEWS, A.G.A. Studies on Termites from the Mato Grosso State, Brazil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências. 1977

OLIVEIRA, D. E. Sistemática do grupo Velocitermes (Isoptera, Termitidae, Nasutitermitinae). xv, 258 f., il. Tese (Doutorado em Biologia Animal), Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

SANTOS, C. A., COSTA-LEONARDO, A. M. “Anatomy of the Frontal Gland and Ultramorphology of the Frontal Tube in the Soldier Caste of Species of Nasutitermitinae (Isoptera, Termitidae)”, Microscopy research and technique, v. 71, n. 2, p. 146–157, 2008.

STANSLY, P. A., and KORMAN, A. K. Parthenogenic development in Velocitermes spp. (Isoptera, Nasutiterminae). Sociobiology 23: 13–24, 1993.

 

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