Um pouco sobre o mosquito Aedes aegypti e sua importância (V.2, N.7, P.5, 2019)

Tempo estimado de leitura: 8 minute(s)

Divulgador da ciência: Sergio Daishi Sasaki

Universidade Federal do ABC, Centro de Ciências Naturais e Humanas.

sergio.sasaki@ufabc.edu.br

 

O mosquito Aedes aegypti é parecido com aqueles pernilongos responsáveis por aquele zumbido e pelas picadas noturnas que não nos deixam dormir. No entanto possuem uma característica muito marcante em sua aparência, listras brandas em seu corpo e patas. Como ele é urbano, convive bem em locais habitados por pessoas e, para se reproduzir, o Aedes aegypti, assim como outros mosquitos, depende de água, por isso, a prevenção à sua expansão é por meio de métodos que evitem o acúmulo de água em todo tipo de local, recipiente, estrutura.

 

Aedes aegypti: as origens

 

O Aedes aegypti não é nativo do Brasil, ele tem origem na África (Egito). É provável que o vetor – organismo capaz de transmitir doenças – foi introduzido na América, no período colonial, por meio de navios que traficavam escravos. A relação do Aedes aegypti começou a ser descrita graças ao trabalho de pesquisa científica de Antonio Gonçalves Peryassú, que descreveu o ciclo de vida, os hábitos, a biologia do mosquito e sua possível relação com a Febre Amarela.

 

Esses estudos também serviram de base para o médico sanitarista Oswaldo Cruz, que no início do século XX realizou uma grande campanha de combate à Febre Amarela no Rio de Janeiro. Outras campanhas, promovidas décadas mais tarde pela Organização Pan-americana de Saúde e pela Organização Mundial de Saúde levaram à erradicação do Aedes aegypti do Brasil no de 1955. Contudo, a partir dos anos 1960, o mosquito voltou ao Brasil, não se sabe exatamente por qual via, mas é certo que a partir daí e até os dias atuais a infestação pelo Aedes aegypti espalhou-se por todo o país.

 

Antigamente sabia-se que o Aedes aegypti não podia se desenvolver em água suja, hoje, os estudos mostram que o inseto já se adaptou, ou seja, mesmo em água suja ele é capaz de colocar seus ovos e estes eclodem e o mosquito completa seu ciclo.

 

Mas, por que estamos escrevendo aqui sobre esse mosquito?

 

É tão importante falar sobre ele, porque ele é o vetor de várias doenças que podem se manifestar em diferentes graus de gravidade, como a Dengue, a Febre Amarela, a Zika e a Chikungunya. Vírus diferentes uns dos outros causam essas doenças no ser humano.

 

De maneira geral, tais doenças podem causar febre, em diferentes níveis, mal-estar geral, dor em diferentes partes do corpo, e, em casos mais graves, até mesmo hemorragia, como é o caso da Dengue.

 

Além disso, há quatro anos, foi demonstrado que o vírus da Zika é também responsável por casos de microcefalia em recém-nascidos (quando a gestante é infectada pelo vírus). O vírus da Zika pode também causar doenças do sistema nervoso, podendo levar a uma doença chamada Síndrome de Guillain Barré, um distúrbio autoimune cujo sintoma principal é a fraqueza muscular progressiva e ascendente, podendo, também, ocorrer paralisia.

 

E como podemos erradicar essas doenças?

 

Para que qualquer uma dessas doenças continue se expandindo é necessário a existência de três condições: 1) presença de pessoas que sejam portadoras do vírus (doentes); 2) o mosquito Aedes aegypti; 3) que a fêmea do mosquito esteja infectada (que tenha picado uma pessoa com o vírus e depois outra pessoa, transmitindo o vírus).

 

Assim, podemos pensar em duas estratégias para conseguir eliminar essas doenças da população humana. A primeira é evitar que o vírus se desenvolva no organismo humano e uma forma de realizar isso é por meio do desenvolvimento de vacinas. Por isso a importância das campanhas de vacinação, como a contra a Febre Amarela. Porém, Dengue, Zika e Chikungunya, não possuem, até o momento, vacinas que sejam efetivas para nosso organismo responder positivamente contra os vírus que causam estas doenças.

 

Outra forma de combater as doenças é por meio do desenvolvimento de medicamentos específicos para combate aos vírus causadores delas, para isso é muito importante a pesquisa básica realizada nas Universidades e institutos de pesquisa. No Brasil, a maior parte destas pesquisas ocorre em instituições públicas. Também não existe medicamento específico, até o momento, totalmente eficaz para combater estas doenças. Então, no momento, a única maneira de evitarmos a expansão da Dengue, Zika e Chikungunya é evitar a picada do mosquito transmissor (que esteja infectado). Para evitar a picada é possível utilizar repelentes, no entanto, a maneira mais efetiva é evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti.

 

Fêmea de Aedes aegypti. Foto: James Gathany (Public Health Image Library (PHIL) do Center for Disease Control and Prevention.

 

Um pouquinho sobre a biologia do Aedes aegypti

  

Como falamos sobre o desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti na água, para explicar melhor, vamos falar sobre o ciclo de vida dele. O Aedes aegypti se desenvolve em quatro fases de vida, as fêmeas depositam os ovos na água, estes ovos amadurecem e eclodem, liberando larvas. As larvas se alimentam de bactérias presentes na água, se desenvolvem até a fase de pupa, e, finalmente, a forma alada, o mosquito adulto, voa para o ambiente.

 

Ilustração das diferentes fases do ciclo de vida do mosquito Aedes aegypti. Fonte: Raquel Juliana Vionette do Amaral e Marilvia Dansa-Petretski. Adaptado Unicamp (2012). http://www.prefeitura.unicamp.br/prefeitura/ca/DENGUE/3dengue_unicamp.html

 

O macho do Aedes aegypti se alimenta exclusivamente de néctar e seiva de vegetais. A fêmea é que pica o ser humano, pois necessita de sangue para sua alimentação, logo ela é hematófaga. O sangue, por conter uma quantidade grande de proteínas, é fundamental para que a fêmea gere seus ovos, de maneira que se tornem viáveis para a manutenção da espécie na natureza.

 

A fêmea, para se alimentar, possui uma pequena tromba que introduz na pele da pessoa. chamada de probóscite, Dentro dessa probóscite, existem estruturas que procuram o vaso sanguíneo e ao encontrá-lo, o mosquito fêmea passa a sugar o sangue. Curiosamente, para conseguir se alimentar de sangue, a fêmea, possui uma saliva rica em moléculas que impedem que o sangue coagule, são as substâncias anticoagulantes, sem essas substâncias o sangue coagularia impedindo sua sucção pelo mosquito.

 

Como combater a proliferação do mosquito?

 

A atitude prioritária é evitar o acúmulo de água em recipientes que fiquem expostos e disponíveis para a colocação dos ovos pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. As ações positivas para isso são: evitar o acúmulo de água em pneus, latas, garrafas, tampinhas de garrafa, pratos de plantas, vasos com água, limpar calhas, cobrir completamente caixas de água, tratar a água de espelhos d’água para evitar que o mosquito complete o seu ciclo.

 

Além disso, as ações por parte da administração pública são muito importantes, pois é de responsabilidade da mesma fiscalizar terrenos, casas, fábricas e outros locais que sejam potenciais criadouros do mosquito, inclusive as próprias instalações da administração pública, nos níveis municipal, estadual e federal. Finalmente, outra ação importante é o saneamento básico, que ainda é precário em muitas cidades e regiões, do Brasil em que, por conta desse problema, os criadouros do mosquito também estão muito presentes.

 

O combate ao mosquito transmissor da dengue passa de forma fundamental por uma ação de educação da população. Nesse sentido, a UFABC possui um grupo de alunos universitários que realiza palestras em escolas de Ensino Fundamental, com o objetivo de conscientizar as crianças sobre a importância do controle do mosquito, desenvolvendo nelas uma atitude de cidadania.

 

Nosso projeto se chama “Educação sobre o controle do mosquito transmissor da Dengue, Zika e Febre Amarela”.  Para quem desejar mais detalhes sobre nosso projeto pode entrar em contato por meio do e-mail: sergio.sasaki@ufabc.edu.br.

 

Fotos do projeto:

 

 

 

 

Imagem destacada: Shutterstock

 

Sites interessantes utilizados como referência para o texto:

http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/combate-ao-aedes

http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/oportunista.html

http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/longatraje.html

 

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