De forma coletiva pensar alternativas para aumentar o Capital de uma Empresa.

Ficha Síntese da Prática Pedagógica

Objetivos da Prática Pedagógica:
desenvolver a argumentação, a busca de soluções e a tomada de decisões de forma coletiva.

Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
quatorze alunos adultos em fase de alfabetização pertencentes a uma escola situada na periferia do município de Santo André, SP.

Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica: coletivamente os alunos prepararam e venderam tapiocas para os demais alunos e funcionários da escola.

Vivenciaram, assim, o trabalho coletivo, a resolução de problemas e a argumentação.

Recursos necessários para aplicação:
ingredientes para preparação das tapiocas, fogão ou fogareiro, frigideira, ralador de coco.

Breve currículo do autor da prática pedagógica:
Maria Isabel Bezerra de Lima – Graduação em Pedagogia;  Pós graduação em Educação Infantil; Pós graduação em Gestão Escolar; Professora há 25 anos, atuando na Educação Infantil e Ensino Fundamental regular e suplência.

Objetivo da atividade

O objetivo da proposta era que os alunos buscassem a resolução de um problema e a tomada de decisão de forma coletiva, vivenciando assim a autogestão.

Desenvolvimento da proposta

Considerando os R$11,50 arrecadados no âmbito da Prática pedagógica I como o capital de uma empresa, os alunos deveriam pensar formas de aumentar esse capital.

Os alunos sugeriram bingo, expliquei que era ilegal; fazer um bolo e vender, “questionei qual aluno faria o bolo e qual a participação dos outros”; fazer uma rifa, ”sugeriram produtos como pano de prato, copos ou um bolo”.

Começaram a discutir quantos números teria a rifa e o valor de cada número. Estimaram que o bolo seria mais fácil de fazer e vender, fazendo um bolo ainda sobraria dinheiro.

Dias depois durante uma atividade corriqueira os alunos começaram a falar de tapioca. O assunto gerou comentários, saudosismos do nordeste e então propus fazermos a tapioca como forma de ampliar o capital da “Empresa”.

Os alunos se animaram: quem sabe fazer? Quais os ingredientes? Quanto custam? Quem vai comprar? Por quanto vender?

Os alunos se mobilizaram, a aluna Francisca avisou logo que não iria ajudar e os demais se animaram. Combinamos, então, o que trazer e quem iria trazer cada material necessário.

No dia marcado duas alunas que tinham disponibilidade de horário chegaram um pouco antes para ralar o coco, outras duas funcionárias da escola também ajudaram. À medida que iam chegando, os alunos se envolviam no trabalho. A Mônica ficou responsável por preparar a tapioca, ajudada pela Eliane. Outros peneiravam o polvilho, outros formaram duas equipes de vendas percorrendo as salas de aula da escola, oferecendo o produto.

A certa altura ocorreu um problema com a massa devido à diferença do polvilho utilizado. Foi aí que a Francisca, que até então se mantinha apenas como observadora, literalmente colocou a mão na massa e mostrou uma habilidade invejável para fazer tapiocas.

As vendas na escola superaram em muito as expectativas. Todos ficaram muito animados não só com o lucro, mas com a dinâmica da atividade.

Uma aluna comentou “eu nunca estudei numa escola como essa”, outra, “minha filha falou que queria que a escola dela fosse desse jeito”.

Os alunos prepararam as tapiocas, venderam, calcularam troco e depois coletivamente fizemos uma estimativa do lucro que ficou em torno de R$ 95,00.

Alguns dias depois a aluna Monica me perguntou o que venderíamos da próxima vez. Animada ela comentou que ela e sua filha tinham pensado que poderíamos vender milho ou salada de frutas. Segundo ela eram fáceis de preparar, de vender e ela já tinha a panela de pressão grande.


Ralando o côco para fazer as tapiocas


Alunos se dividem para realizar as tarefas

Uma atividade planejada e não concretizada, que superou o imaginado.

Para finalização do processo que tinha como objetivo trabalhar valores da economia solidária na busca de uma melhor qualidade de vida pensei em utilizar o dinheiro arrecadado nas duas primeiras etapas, cerca de R$ 95,00 para comprar material e realizar uma experimentação artística, onde os alunos usassem materiais recicláveis como madeiras, vidros e pets para produzir objetos artesanais.

O propósito era que depois de produzidos os artesanatos os alunos atribuíssem preços justos a esses objetos. Assim seria trabalhado a expressão artística, o trabalho coletivo, a valoração do trabalho de si e do outro, enfim, uma série de saberes objetivos da EJA e também da economia solidária.

Por estarmos no final do ano e ter necessitado tirar uma licença de quinze dias o tempo inviabilizou a realização dessa terceira vivência pedagógica.

Informei aos alunos o que havia planejado e comuniquei que na impossibilidade de realizar a atividade pensada dividiria o dinheiro arrecadado entre todos. Era justo.

No dia marcado para a divisão comentei com a inspetora da escola o que combinara com os alunos e esta sugeriu que ao invés da divisão do dinheiro eu pedisse pizza para junto com os alunos fazer o encerramento do ano. Levei as duas propostas para o grupo: dividir o dinheiro ou pedir pizza segundo a sugestão de Maria Jose, nossa inspetora.

Depois de feito os cálculos, onde cada um receberia R$6,90 partimos para a votação. Antes, porém, retomei com os alunos a concepção de economia solidária, uma forma de pensar o trabalho onde a qualidade de vida suplanta a idéia de lucro. Uma forma de se pensar o trabalho onde o objetivo seja o ser humano, a cidadania e o bem viver.

Duas alunas optaram pelo dinheiro e uma terceira disse precisar do dinheiro para procurar trabalho, mas que iria votar pela pizza. As outras duas que optaram pelo dinheiro uma alegou não gostar de pizza e a outra, Floraci, confidenciou que iria precisar do dinheiro, tinha consulta marcada no dia seguinte e estava sem o dinheiro da passagem.

Avaliação do processo

Penso que esta atividade superou o imaginado porque os alunos puderam vivenciar, em diferentes momentos, ricos exemplos de solidariedade. As três alunas receberam o dinheiro e também partilharam a pizza. Foi decisão de todos. A Marina, que alegou não gostar de pizza, não comeu mesmo sob insistência de outros alunos, porém seu esposo que é de outra sala e estava conosco partilhou desse momento tão significativo.
Retomei com os alunos o prazer e alegria que essas vivências nos trouxeram, da execução à partilha. Falei sobre o trabalho solidário como possibilidade de geração de renda e a existência no município de pessoas que podem dar suporte a esses empreendimentos.

Lamento o tempo limitado de todo esse processo, se tivesse mais alguns meses com esses alunos com certeza poderíamos amadurecer a idéia e quem sabe surgiria desse grupo, que chegam à escola tão cansados pelo trabalho árduo ou distante de suas casas, um empreendimento solidário.

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